A região Nordeste e especificamente as faixas costeiras ao leste estão sendo atingidas por fortes chuvas que já causaram muitas mortes e estragos. Mas, como explicar tanta chuva?
Em abril de 2022, após a chegada de uma frente fria na costa da Bahia nas proximidades de Salvador, precipitou quase 350 mm de chuva em alguns dias sobre a capital. A cidade registrou vários alagamentos e alguns movimentos de massa (deslizamento de terra).
No fim de maio, a atuação de dois eventos Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) sobre a costa pernambucana causou a maior tragédia do estado: 129 mortos. Dentre os mortos, crianças, jovens, adultos e idosos.
Além dos mortos, várias casas foram totalmente ou parcialmente destruídas deixando muitos desabrigados. Muitas pessoas perderam móveis e as chuvas paralisaram grande parte da economia da cidade, inclusive ocorrendo a interrupção de aulas presenciais. Em 24 horas, algumas localidades somaram mais de 250 mm de chuva no dia 28 de maio, e em 15 dias, outras se aproximaram de 1000 mm, um volume extremamente alto.
Enquanto a costa pernambucana era castigada no período, a costa alagoana também sofria, mas, em menor intensidade. Os Distúrbios Ondulatórios de Leste também ocorreram na região de Maceió e também causaram estragos. Casas foram destruídas, alagamentos e inundações ocorreram.
No início de julho (03), a capital Natal foi atingida por chuvas volumosas que superaram 200 mm em menos de 24 horas. Essa concentração de chuvas em um curto período de tempo causou alagamentos e em alguns pontos, várias ruas viraram crateras devido ao escoamento superficial da água.
Durante o outono e inverno é comum que chova muito no leste do Nordeste. Durante esse período ocorre o ápice das precipitações nestas localidades. Mas, certamente, em especial para Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, o período chuvoso de 2022 se destaca pelos elevados volumes de chuva, expressando anomalias positivas de chuva. Mas, quais fatores oceânicos ou atmosféricos podem explicar esses fenômenos extremos?
O que explica as chuvas intensas no Leste do Nordeste em 2022?
O fenômeno La Niña está ativo e enfraquecido. Na literatura científica é comum associar o fenômeno La Niña a um aumento das chuvas no Nordeste brasileiro. As anomalias frias do pacífico equatorial que configuram uma La Niña acabam por mudar a configuração global dos ventos em diversos níveis da atmosfera e com isso, mudam os padrões de chuvas e secas. O padrão da La Niña pode ter atuado como um potencial adicional ao regime de chuvas no Nordeste.
Outro fator que possui muita importância são as temperaturas da superfície do mar, as TSM. As TSMs aqui em questão são as observadas no oceano Atlântico. As TSM são importantes porque regulam a disponibilidade de energia dos sistemas precipitantes.
A TSM do Atlântico Tropical mais fria, ou seja, águas mais frias que a média climatológica, pode atuar como redutoras de precipitações sobre o Nordeste, enquanto que águas mais quentes que o normal atua como grande contribuinte para o regime de chuvas na região. O que se observa atualmente na costa do Nordeste são águas mais quentes que o normal.
De maneira geral, esses 2 fatores atuando em conjunto podem ser usados para explicar as chuvas volumosas que vem ocorrendo na região. As águas mais quentes do oceano Atlântico acabaram fortalecendo a ocorrência e formação dos Distúrbios Ondulatórios de Leste. Esse fenômeno também é comum para a época do ano.
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