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Foto do escritorPaulo Vitor

Os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis que atuam no Nordeste do Brasil

Atualizado: 19 de abr. de 2022

O Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) é um sistema meteorológico que ocorre nos altos níveis da troposfera sobre o Nordeste, a mais de 9.000 metros de altitude. O VCAN é um sistema caracterizado pela dualidade: causa chuvas e tempo seco ao mesmo tempo em áreas diferentes.


VCAN NORDESTE CHUVA SECA
VCAN atuando sobre o Nordeste em 09 de janeiro de 2022 as 19:00 UTC. Fonte: DSA/CPTEC. Editado.

O VCAN trata-se de uma circulação fechada em altos níveis que tem como características principais movimentos verticais ascendentes em suas bordas que causam a formação de chuvas e nebulosidade, e movimentos verticais descendentes (subsidência) em seu centro, inibindo a formação de nebulosidade e chuvas.


Apesar de atuarem no Nordeste, os VCANs também podem se formar em outras regiões brasileiras, como a exemplo na costa do Sudeste. Os VCANs que atuam no Nordeste (e também nas áreas tropicais) são chamados Palmer. Eles podem também se formar em regiões extratropicais e são chamados de VCANs tipo Palmén.

Na maioria dos casos, a formação dos VCANs estão relacionados a intensificação de uma crista associada a Alta da Bolívia nos altos níveis e em baixos níveis a liberação de calor latente devido o avanço de frentes frias para as baixas latitudes. Também existe a documentação de VCANs formados a partir da propagação e amplificação de cavados a ponto de fechar a circulação. Estes cavados são provenientes da alta troposfera e oriundos da África.



A atuação VCAN sobre o Nordeste ocorre com maior frequência no verão, com ápice de formações em janeiro. Os VCANs podem durar entre 4-11 dias, se formando sobre o oceano Atlântico e se deslocando ao interior do Nordeste, podendo também penetrar no Sul da região Norte e áreas da região Centro-oeste, com um deslocamento padrão Leste-Oeste, mas também os VCANs podem ser estacionários por alguns dias ou até se propagarem para Leste.


Esquema da estrutura vertical de um VCAN: convergência e chuva nas bordas, divergência e tempo seco no centro. Fonte: FERREIRA, RAMÍREZ e GAN, 2009.


O VCAN e a influência nas condições do tempo no Nordeste


O VCAN é um importante sistema na previsão do tempo no Nordeste nos meses de verão, em suas periferias são esperadas nebulosidade e chuva, enquanto que nas áreas centrais a subsidência causa dias quentes e secos. A persistência do VCAN pode então representar excesso hídrico ou déficit hídrico em áreas da região Nordeste. Os excessos hídricos causados por chuvas contínuas colaboram para a vazão dos rios, agricultura e pastagem.



Normalmente as áreas mais beneficiadas pelas chuvas causadas pelos VCANs são as áreas a Oeste do Nordeste, podendo citar a região do MATOPIBA, uma área com forte produção agrícola. Os dias secos acentuam o drama da seca em áreas do sertão do Nordeste, causando déficit hídrico e prejudicando a produção de alimentos, a pecuária e o abastecimento de água.

VCAN causando tempo seco em áreas da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. No oeste da Bahia e Sul do Piauí observa-se nebulosidade associadas a borda do VCAN, 12 de janeiro de 2022 as 23:50 UTC. Fonte: Editado, DSA/CPTEC.

Contudo, o VCAN também tem papel relevante nas chuvas de verão no Sudeste e Centro-oeste através da formação do corredor de umidade que atravessa o Brasil na direção Noroeste-Sudeste denominado ZCAS. O VCAN ajuda na canalização da umidade sobre essas áreas.


Pesquisas sobre as variações da ocorrência dos VCANs


Algumas pesquisas indicaram que em anos de El Nino durante os verões de 1982-1983 e 1986-1987 os VCANs foram mais extensos e mais profundos, chegando até a média troposfera, em 500 hPa (5.500 metros de altitude). Nos verões com La Nina de 1984-1985 e 1988-1989 os VCANs ficaram restritos a alta troposfera (RAMÍREZ, KAYANO e FERREIRA, 1999).



Mais recentemente, outros estudos indicaram que em anos de La Nina a ocorrência de VCANs diminui, enquanto que em anos de El Nino e neutralidade ocorre um aumento da atuação dos VCANs (SILVA, RAMÍREZ e SATYAMURTY 2006 e SILVA 2007).

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