Embora a Oscilação Madden-Julian (OMJ) seja um fenômeno menos conhecido, ela é fundamental para as chuvas nos trópicos do planeta e pode ter impactos importantes nas latitudes médias.
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Em geral, as reportagens sobre fenômenos climáticos descreveram o El Niño Oscilação-Sul (ENOS), seus impactos regionais e globais e os desafios de prevê-lo. Aqui apresentaremos outro fenômeno importante na região tropical: a Oscilação Madden-Julian, ou OMJ.
Várias vezes por ano, a OMJ contribui fortemente para a ocorrência de diversos eventos extremos ao redor do globo.
Então o que é a OMJ?
Este fenômeno climático é diferente do ENOS, que é estacionário e está associado a características que persistem por várias estações no Oceano Pacífico. A OMJ, por sua vez, é uma perturbação de nuvens, chuva, ventos e pressão em movimento para o leste que atravessa o planeta nos trópicos e retorna ao seu ponto inicial em 30 a 60 dias. Por isso ela é melhor descrita como uma variabilidade climática intra-sazonal (varia de semana para semana).
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A OMJ consiste em duas fases: uma é a fase de chuva intensificada (ou fase convectiva) e a outra é a fase de chuva suprimida. A intensa atividade da OMJ freqüentemente divide o planeta em duas metades: uma metade dentro da fase convectiva ativa e a outra metade na fase convectiva suprimida.
Essas duas fases produzem mudanças opostas nas nuvens e na precipitação e todo este padrão dipolo (dois centros principais opostos) se propaga para o leste. A localização das fases convectivas são agrupadas em estágios geográficos numerados de 1 a 8.
Portanto, para que a OMJ seja considerada ativa, este dipolo de fases convectiva ativa e suprimida deve estar presente e mudando para o leste com o tempo.
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O que está por trás deste padrão?
Vamos olhar para algumas das características dentro das duas fases convectivas. Na fase que possui convecção ativa, os ventos convergem em superfície e o ar é empurrado para cima. No topo da atmosfera, os ventos invertem, ou seja, divergem. Esse movimento ascendente (para cima) do ar na atmosfera tende a aumentar a condensação e a precipitação.
Por outro lado, na fase da convecção suprimida, os ventos convergem no topo da atmosfera, forçando o ar a descer e, posteriormente, a divergir na superfície (Rui e Wang, 1990). O movimento de subsidência (descida) do ar, de grandes altitudes para a superfície, faz com que ele aqueça e seque, suprimindo as chuvas e mantendo o tempo estável.
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As mudanças provocadas pela OMJ nos padrões de chuva e ventos impactam tanto os trópicos, quanto os extratrópicos, o que a torna um fenômeno importante para previsão de tempo e clima em muitas áreas do globo.
A OMJ pode modular o período e a intensidade das monções (Jones e Carvalho, 2002; Lavender e Matthews, 2009), influenciar os ciclones tropicais em quase todas as bacias oceânicas (Maloney e Hartmann, 2000) e resultar em mudanças na corrente de jato, que podem levar a eventos de calor ou frio extremo e inundações na América do Norte, por exemplo (Higgins et al. 2000, Cassou, 2008, Lin et al. 2009, Zhou et al., 2012, Riddle et al., 2013, Johnson et al., 2014).
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Por fim, apesar das diferenças entre a OMJ e o ENOS, os dois fenômenos climáticos podem gerar impactos semelhantes, como o aumento da precipitação em determinadas regiões e a seca em outras.
Referências:
Madden R. and P. Julian, 1971: Detection of a 40-50 day oscillation in the zonal wind in the tropical Pacific, J. Atmos. Sci., 28, 702-708.
Madden R. and P. Julian, 1972: Description of global-scale circulation cells in the tropics with a 40-50 day period. J. Atmos. Sci., 29, 1109-1123.
Cassou, C., 2008: Intraseasonal interaction between the Madden Julian Oscillation and the North Atlantic Oscillation. Nature, 455, 523-527 doi:10.1038/nature07286 Letter
Higgins, W., J. Schemm, W. Shi, and A. Leetmaa, 2000: Extreme precipitation events in the western United States related to tropical forcing. J. Climate, 13, 793-820.
Nathaniel C. Johnson, Dan C. Collins, Steven B. Feldstein, Michelle L. L’Heureux, and Emily E. Riddle, 2014: Skillful Wintertime North American Temperature Forecasts out to 4 Weeks Based on the State of ENSO and the MJO*. Wea. Forecasting, 29, 23–38.
Jones, C. and L. Carvalho, 2002: Active and Break phases in the South American Monsoon System. J. Climate, 15, 905-914.
Lavender, S. and A. Matthews, 2009: Response of the West African monsoon to the Madden-Julian Oscillation, J. Climate, 22, 4097-4116.
Maloney E. and D. Hartmann, 2000: Modulation of hurricane activity in the Gulf of Mexico by the Madden-Julian Oscillation. Science, 287, 2002-2004.
Riddle, E. E., M. B. Stoner, N. C. Johnson, M. L. L’Heureux, D. C. Collins, and S. B. Feldstein, 2013: The impact of the MJO on clusters of wintertime circulation anomalies over the North American region. Climate Dyn., 40, 1749–1766.
Zhang, C., 2005: Madden-Julian Oscillation. Reviews of Geophysics, 43, 1-36.
Zhou S., M. L’Heureux, S. Weaver, and A. Kumar, 2012: A composite study of MJO influence on the surface air temperature and precipitation over the Continental United States. Climate Dyn., 38, 1459-1471.
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