Já se passaram 780.000 anos desde que isso aconteceu e alguns cientistas afirmam que os polos magnéticos da Terra estão atrasados para uma mudança.
![](https://static.wixstatic.com/media/85c1ea_8e26fc0705e941fcacaed14102ac799c~mv2.png/v1/fill/w_980,h_689,al_c,q_90,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/85c1ea_8e26fc0705e941fcacaed14102ac799c~mv2.png)
Algo curioso está acontecendo com o campo magnético da Terra. Nos últimos 200 anos ele vem enfraquecendo lentamente e mudando o seu pólo norte magnético (onde uma bússola aponta, não deve ser confundido com o pólo norte geográfico) do Ártico Canadense para a Sibéria. Nas últimas décadas, no entanto, esta mudança lenta para o sul vem acelerando - atingindo velocidades acima de 30 milhas por ano (48 quilômetros por ano).
Poderíamos estar à beira de uma reversão geomagnética, na qual os pólos magnéticos norte e sul trocam de lugar?
O campo magnético da Terra é gerado pela convecção de ferro fundido no núcleo do planeta, a cerca de 1.800 milhas (2.896 km) abaixo dos nossos pés. Esse líquido superaquecido gera correntes elétricas que, por sua vez, produzem campos eletromagnéticos.
Embora os processos que regem a reversão dos pólos sejam comparativamente menos compreendidos, simulações computacionais da dinâmica planetária mostram que as reversões ocorrem espontaneamente. Isso é validado pela observação do campo magnético do Sol, que se inverte aproximadamente a cada 11 anos.
Nosso próprio campo magnético surgiu há pelo menos 4 bilhões de anos, e os pólos magnéticos da Terra se inverteram muitas vezes desde então. Só nos últimos 2,6 milhões de anos, o campo magnético mudou dez vezes - e, como o mais recente ocorreu há espantosos 780.000 anos atrás, alguns cientistas acreditam que estamos atrasados para outro. Mas as reversões não são previsíveis e certamente não são periódicas.
Mapeando campos magnéticos
Pesquisadores mapeiam a história antiga do campo magnético da Terra usando rochas vulcânicas. Quando a lava esfria, o ferro que ela contém é magnetizado na direção do campo magnético. Examinando essas rochas e usando técnicas de datação radiométrica, é possível reconstruir o comportamento passado do magnetismo do planeta, bem como o seu fortalecimento, enfraquecimento ou mudança de polaridade.
Para rastrear mudanças magnéticas mais recentes, os cientistas recorrem às propriedades magnéticas de artefatos arqueológicos. Quando nossos ancestrais aqueciam uma antiga lareira ou um forno contendo ferro, a temperaturas altas o suficiente, eles realinhavam seu magnetismo com o campo magnético da Terra após o resfriamento. O ponto em que isso ocorre é conhecido como ponto Curie. Os estudos incluíram ainda alguns segmentos do piso de um edifício da Idade do Ferro em Jerusalém, que um exército babilônico queimou em 586 a.C.
Mas realizar medições nesses artefatos arqueológicos é difícil. Primeiramente, o magnetismo em objetos antigos é muito fraco - não o suficiente para mover a agulha de uma bússola. E se algum objeto for aquecido e resfriado várias vezes, vários padrões magnéticos serão sobrepostos. Por fim, sua confiabilidade depende da permanência dos objetos no mesmo local em que ocorreu o aquecimento.
Apesar dessas dificuldades, os pesquisadores têm mapeado amplamente as mudanças recentes no campo magnético abaixo da Europa Ocidental e do Oriente Médio.
Tartarugas e salmões e baleias
Os cientistas não têm certeza das repercussões exatas que uma reversão terá - as evidências de reversões anteriores permanecem incertas - mas podem ser sérias. Por exemplo, muitos animais usam o campo magnético da Terra para navegar durante a migração.
Tartarugas cabeçudas jovens escavam o seu caminho para fora dos ninhos subterrâneos nas praias da Flórida, entram no mar e viajam para longe no Oceano Atlântico (às vezes atravessando-o completamente). Então, depois de muitos anos, eles retornam às mesmas praias da Flórida em que nasceram. Elas navegam nesta jornada 14.494 km, detectando a força e a direção do campo magnético. Quando se trata de salmões, baleias, pássaros e outras criaturas que também usam o magnetismo da Terra para navegar, suas vidas seriam seriamente afetadas por uma reversão do campo magnético.
Além disso, a Terra é constantemente bombardeada por uma corrente de partículas carregadas que chegam do Sol e por raios cósmicos, principalmente prótons e núcleos atômicos, do espaço profundo. No período anterior à reversão, o campo magnético se torna mais fraco e significativamente menos eficaz em nos proteger dessas partículas. Embora alguns geólogos observem que as extinções em massa parecem se correlacionar com esses períodos de tempo, os humanos ou nossos ancestrais estão na Terra há vários milhões de anos. Durante esse tempo, ocorreram muitas reversões e não existe uma correlação óbvia com o desenvolvimento humano.
Período tumultuado para a tecnologia
O efeito direto sobre a humanidade pode ser apenas leve, mas não para a tecnologia. Nós usamos satélites artificiais para a navegação, transmissão de televisão, previsão do tempo, monitoramento ambiental e comunicação de todos os tipos. Sem a proteção de um campo magnético, esses satélites poderiam ser seriamente afetados pelo vento solar ou raios cósmicos colidindo com circuitos eletrônicos. Um fraco campo magnético no Oceano Atlântico Sul, conhecido como “Anomalia do Atlântico Sul”, já afeta adversamente os satélites e pode ser uma indicação do que está por vir.
Estudos geológicos recentes sugerem uma possível razão para a anomalia. Acredita-se que a nossa Lua se formou quando a Terra foi atingida pelo planeta Theia há 4,5 bilhões de anos, mas os restos de Theia nunca foram encontrados. Agora parece que os restos de Theia podem estar sob nossos pés.
Existem dois enormes volumes de rocha enterrados profundamente na Terra, cada um milhões de vezes maior do que o Monte Everest (e em expansão) e mais denso e quente do que o resto do manto da Terra. Os cientistas sugerem que essas massas rochosas são os restos perdidos de Theia e que interferem na convecção do ferro fundido - dando origem ao fraco campo magnético no Atlântico Sul.
Independentemente, a gravidade de uma reversão magnética dependerá de quanto tempo a reversão leva para ser concluída. Se o campo mudar lentamente por muitos milhares de anos, é possível que as criaturas migratórias, e também a humanidade, sejam capazes de se adaptar. Nesse meio tempo, temos muito o que aprender sobre o que está acontecendo nas profundezas do nosso planeta.
Fonte: Astronomy.
Comments