Estudo indica que monte Everest está "derretendo"
- Paulo Vitor
- 23 de fev. de 2022
- 3 min de leitura
Através da revisão da literatura e interpretação de modelos ambientais foi possível compreender as mudanças recentes no clima e ambiente do Monte Everest e projetar cenários futuros para a maior montanha do mundo.

Pesquisadores chineses do Instituto Noroeste de Eco-Ambiente e Recursos da Academia Chinesa de Ciências (CAS), utilizando da revisão da literatura e de dados de modelagem ambiental, compreenderam alterações no clima de um passado recente no Monte Everest e posteriormente realizaram projeções de seu comportamento em um futuro próximo. Seus estudos foram publicados em Earth-Science Reviews.
Os dados e modelos utilizados tiveram como foco de análise a temperatura, precipitação, geleiras, lagos glaciais e ambiente atmosférico.

A partir de dados paleoclimáticos obtidos através da análise de núcleos de gelo e anéis de árvores (dendrocronologia) foram reconstruídos alguns ambientes do Monte Everest. Os pesquisadores descobriram que ocorreu um aquecimento na região da montanha durante o século XX. Ainda segundo o professor Kang Shichang, líder do estudo:
A região do Monte Everest experimentou um aquecimento significativo desde 1960, cerca de 0,33°C/década, com base nas observações meteorológicas de 1961 a 2018, mas a precipitação foi relativamente estável.
Ainda segundo os pesquisadores, existe uma tendência de que o aquecimento do Monte Everest permaneça no futuro até 2099. Atualmente, as áreas de geleiras no Monte Everest são de cerca de 3.266 km². Esse número representa uma diminuição em relação as décadas de 1970 a 2010 e deve estar relacionado com o aumento das temperaturas.
O degelo das geleiras acabam por aumentar a vazão dos rios nestas localidades e o crescimento do número de lagos glaciais e seus volumes. A área de lagos glaciais aumentou de 106,11 km² em 1990 para 133,36 km² em 2018, e o número de lagos glaciais aumentou 16,9%, indo de 1.275 no ano de 1990 para 1.490 no ano de 2018.

Os lagos glaciais ainda podem representar uma ameaça as comunidades locais. Esta área está sujeita a fortes terremotos em virtude de suas características geológicas (serão abordadas sinteticamente adiante). Estes terremotos podem romper estes lagos e o escoamento da água armazenada geraria uma forte enxurrada nas áreas a jusante, atingindo as comunidades, causando prejuízos e podendo provocar mortes.
Todas essas descobertas indicam que a região do Monte Everest mostra sua resposta hidrológica ao aquecimento global. E pode se intensificar nas próximas décadas, potencialmente ameaçando a segurança dos recursos hídricos na região a jusante. Prof. Kang.
O Monte Everest, pelas características geomorfológicas (relevo) é uma das áreas de difícil acesso e com pouca perturbação humana. Apesar disso, os pesquisadores evidenciaram o transporte de poluentes atmosféricos provenientes do Sul da Ásia, Ásia Ocidental e Ásia Central. Sua crescente concentração ocorre deste a Revolução Industrial e pode ter sido intensificada pelo crescimento industrial da China e Índia nas últimas décadas.
Formação do Monte Everest
O Monte Everest é uma das diversas montanhas presentes na Cordilheira do Himalaia, sua formação está ligada ao processo de formação da cordilheira. A colisão recente (em termos geológicos) entre a placa Indo-australiana e a Asiática forçou a superfície da terra a se "dobrar" e se estender verticalmente. Esse processo segue ocorrendo na atualidade, os Himalaias e também o Everest seguem aumentando sua altitude. Algumas estimativas indicam uma movimentação de avanço da placa Indo-australiana de 67 mm ao ano.

Vale destacar que o intemperismo e erosão também remove material da montanha, mas, a taxa de crescimento supera a taxa de erosão da montanha. Por ser uma área de colisão entre placas tectônicas, toda região do Himalaia e Everest está sujeita a ocorrência de terremotos. Os terremotos ocorrem em função da liberação da energia pela tensão do contato dos gigantescos blocos rochosos.
Comments